O «<i>cavaquismo</i>» e o oportunismo

Filipe Diniz

A cam­panha pre­si­den­cial do PS e do BE tem an­dado às ara­nhas, es­tando como está en­ta­lada pelos vín­culos entre o seu can­di­dato e a po­lí­tica de di­reita. E, so­bre­tudo, pelo pro­blema de des­calçar essa mo­nu­mental bota que é apelar ao voto po­pular no can­di­dato que Só­crates apoia.

Não adi­antou calar o can­di­dato, ainda por cima tra­tando-se de al­guém cuja prin­cipal ac­ti­vi­dade ao longo da vida con­sistiu em falar. E não pode dizer nada que se per­ceba sobre a po­lí­tica do Go­verno, nem pode dizer nada que se per­ceba em re­lação a todos aqueles – uma massa es­ma­ga­dora – que a con­denam e re­jeitam.

Mas pa­rece que com o anúncio ofi­cial da can­di­da­tura de Ca­vaco des­co­briram um filão. Vão fazer cam­panha contra o «ca­va­quismo».

O que é então este «ca­va­quismo» de cam­panha? É o iso­la­mento opor­tu­nista de uma par­cela da po­lí­tica de di­reita para evitar dar nome à longa con­ti­nui­dade po­lí­tica de facto entre PS e PSD.

Com essa es­colha - a única que o PS acei­taria - o BE torna-se ins­tru­mento e cúm­plice na ocul­tação das res­pon­sa­bi­li­dades do PS e de Só­crates. Res­pon­sa­bi­li­dades, aliás, em grande parte par­ti­lhadas por Ma­nuel Alegre.

Do que se trata, no com­bate a travar nestas elei­ções pre­si­den­ciais, é bas­tante mais do que der­rotar Ca­vaco. É der­rotar Ca­vaco, mas é também dar uma for­tís­sima ex­pressão po­lí­tica ao que se vem tor­nando aguda ur­gência na­ci­onal: con­denar a po­lí­tica de di­reita, avançar para a vi­ragem pa­trió­tica e de es­querda que ponha fim ao rumo de de­sastre que PS e PSD (com o CDS/​PP a ajudar) há mais de três dé­cadas im­põem ao país.

Em res­posta à gran­diosa ma­ni­fes­tação de mais de 100 mil tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica do pas­sado sá­bado um membro do Go­verno, Cas­tilho dos Santos, de­clarou que «não há con­di­ções para mudar de rumo».

Não ad­mira que este per­so­nagem - de cujo cur­rí­culo consta ser es­pe­ci­a­lista em «di­reito dos va­lores mo­bi­liá­rios» - não veja essas «con­di­ções». E não ad­mira, com a lata que tem, que apa­reça na cam­panha de Alegre a con­denar o «ca­va­quismo».

Mas o povo por­tu­guês vai sa­bendo que há «con­di­ções para mudar de rumo». Uma delas é der­rotar Ca­vaco. Outra é der­rotar a po­lí­tica dos cas­ti­lhos dos santos mais os seus «va­lores mo­bi­liá­rios».



Mais artigos de: Opinião

Incógnitas russas

Mais de 50 mil manifestantes saíram às ruas de Moscovo no domingo para saudar o 93.º aniversário da Revolução de Outubro, naquela que o PCFR considerou uma das jornadas mais participadas dos últimos anos. Na véspera, o presidente Medvedev anunciara o veto da lei...

À deriva

Em vésperas da cimeira da NATO o país parece uma torre de Babel. Ele são os juros da dívida subindo por não haver orçamento e continuando a subir por haver orçamento; ele é a PSP a dizer estar à espera de «carros com protecção...

Duas sílabas apenas

Seja por razões de contaminação política que a convivência que os une nas presidenciais tenha gerado, seja por essa razão maior determinada pelo preconceito anticomunista que comprovadamente os identifica, Louçã e Ana Gomes reagiram à visita do presidente...

Os «bem vindos» de Sócrates & CIA

Decorre em Lisboa a 20 de Novembro a cimeira da NATO, com delegações de alto nível dos 28 membros e outras que aqui virão encontrar-se com a «liderança» da mais importante aliança militar do imperialismo - cada vez mais super-estrutura planetária de...